O atendimento odontológico a gestante é um desafio para muitos dentistas, uma vez que a gravidez é uma fase especial e desafiadora na vida de uma mulher, marcada por transformações físicas, emocionais e hormonais.
Entretanto, durante esse período, a saúde bucal desempenha um papel crucial, tanto para a gestante quanto para o bebê em desenvolvimento. Apesar disso, muitas grávidas negligenciam os cuidados odontológicos por medo ou falta de informação, o que pode levar a complicações evitáveis.
Pensando nisso, este artigo aborda todas as especificidades do atendimento odontológico durante a gestação, destacando sua importância e fornecendo orientações para profissionais e pacientes. Confira!
A importância do atendimento odontológico à gestante
Durante a gravidez, mudanças hormonais significativas podem impactar diretamente a saúde bucal. Dessa forma, o aumento dos níveis de progesterona e estrogênio pode causar maior sensibilidade nas gengivas e predisposição a doenças periodontais. Além disso, náuseas e vômitos frequentes podem aumentar o risco de erosão dentária devido à exposição ao ácido gástrico.
Estudos indicam que condições como gengivite e periodontite não tratadas podem estar associadas a complicações obstétricas, como parto prematuro e baixo peso ao nascer. Dessa forma, o cuidado odontológico regular durante a gestação é essencial para prevenir problemas que podem afetar a mãe e o bebê.
Especificidades do atendimento odontológico à gestante
O atendimento odontológico à gestante requer atenção a diversos fatores, desde o planejamento do tratamento até a execução de procedimentos. Dessa forma, dentre os principais fatores estão:
Avaliação do trimestre gestacional
A gravidez é dividida em três trimestres, e o momento do atendimento odontológico deve considerar as mudanças e limitações de cada fase:
- Primeiro trimestre (0 a 13 semanas): este é o período crítico do desenvolvimento fetal, quando ocorre a formação dos órgãos do bebê. Sendo assim, procedimentos invasivos devem ser evitados, salvo em casos de emergência, devido ao risco de interferir no desenvolvimento fetal.
- Segundo trimestre (14 a 27 semanas): é o período mais seguro para intervenções odontológicas. A gestante geralmente apresenta maior estabilidade e menor risco de complicações. Portanto, pode-se realizar tratamentos preventivos e restauradores com tranquilidade.
- Terceiro trimestre (28 a 40 semanas): embora o tratamento seja possível, deve-se evitar longas sessões odontológicas, pois o tamanho do útero pode causar desconforto ou pressão sobre a veia cava inferior, levando a hipotensão. Dessa maneira, recomendam-se procedimentos mais simples.
Uso de medicamentos
A prescrição de medicamentos para gestantes deve ser feita com cautela. Muitos fármacos atravessam a barreira placentária e podem afetar o bebê. Portanto, o dentista deve sempre consultar a classificação dos medicamentos quanto à segurança na gravidez, utilizando, preferencialmente, os classificados como categoria A ou B pelo FDA.
Antibióticos como amoxicilina e analgésicos como paracetamol são considerados seguros quando utilizados corretamente. Entretanto, medicamentos como tetraciclinas e anti-inflamatórios não esteroides (AINES) devem ser evitados.
Uso de anestésicos locais
Anestésicos locais são seguros na gestação quando utilizados adequadamente. Lidocaína, associada ou não à epinefrina, é a escolha mais comum. Todavia, se faz importante monitorar a quantidade administrada e evitar a ocorrência de hipotensão.
Radiografias odontológicas
Embora o ideal seja evitar radiografias durante a gravidez, elas podem ser realizadas em situações necessárias, desde que medidas de proteção sejam adotadas, como o uso de avental de chumbo e colar protetor de tireoide. A tecnologia digital, que emite menos radiação, é preferível.
Principais condições bucais em gestantes
Dentre as condições odontológicas apresentadas durante a gestação, algumas se destacam por serem mais comuns, dentre elas:
Gengivite gravídica
A gengivite gravídica é uma das condições mais comuns, afetando cerca de 60% a 75% das grávidas. Caracteriza-se por inflamação e sangramento gengival, devido ao aumento da sensibilidade gengival causado pelas alterações hormonais.
Tratamento:
- Higiene bucal rigorosa, com escovação e uso de fio dental.
- Profilaxia profissional para remoção de placa e cálculo dentário.
- Orientação sobre o uso de antissépticos bucais adequados.
Granuloma gravídico
Também conhecido como “tumor da gravidez”, é uma lesão benigna que surge em resposta à irritação local ou ao acúmulo de placa bacteriana.
Tratamento:
- Em muitos casos, o granuloma desaparece após o parto.
- Se causar desconforto ou interferir na mastigação, pode efetuar a remoção cirurgicamente.
Cárie dentária
Mudanças na dieta, aumento da frequência de refeições e náuseas podem elevar o risco de cáries.
Tratamento:
- Tratamentos restauradores são seguros, especialmente no segundo trimestre.
- Reforço na educação alimentar e higiene bucal.
Erosão dentária
Vômitos frequentes podem levar à desmineralização do esmalte dentário.
Orientação:
- Após episódios de vômito, enxaguar a boca com água ou solução de bicarbonato de sódio para neutralizar o ácido.
- Evitar escovar os dentes imediatamente após o vômito para prevenir abrasão do esmalte.
Papel do dentista no cuidado integral da gestante
O dentista desempenha um papel fundamental não apenas no tratamento, mas também na prevenção e educação. Sendo assim, entre as principais responsabilidades estão:
- Educação sobre saúde bucal: informar a gestante sobre a importância de manter uma boa higiene oral e sua relação com a saúde do bebê.
- Prevenção de doenças bucais: promover limpezas regulares e orientar sobre a dieta e uso de produtos bucais adequados.
- Coordenação com a equipe de saúde: o dentista deve trabalhar em conjunto com o obstetra para garantir um atendimento seguro e integrado.
Dicas práticas para gestantes manterem a saúde bucal
Algumas recomendações podem ser orientadas para a gestante manter durante a gestação, dentre elas:
Escovação adequada: Utilizar uma escova macia e creme dental fluoretado pelo menos duas vezes ao dia.
Uso do fio dental: Limpar os espaços entre os dentes diariamente.
Enxaguantes bucais: Recomendar antissépticos sem álcool para a gestante.
Dieta equilibrada: Evitar alimentos açucarados e inclua alimentos ricos em cálcio e vitaminas.
Visitas regulares ao dentista: Realizar consultas preventivas e trate problemas assim que forem detectados.
Mitos e verdades sobre saúde bucal na gravidez
Alguns mitos relacionados ao atendimento odontológico de gestantes são gerados, sendo os mais comuns:
“A gestante não pode tratar os dentes.”
Mito. A gestante pode e deve cuidar da saúde bucal, desde que com procedimentos adequados ao período gestacional.
“Os dentes ficam mais fracos durante a gravidez.”
Mito. A gravidez não enfraquece os dentes. O que ocorre é que alterações hormonais podem favorecer problemas gengivais.
“Problemas bucais podem prejudicar o bebê.”
Verdade. Infecções bucais não tratadas podem estar relacionadas a complicações na gestação, como parto prematuro.
Concluindo, o atendimento odontológico durante a gestação é uma parte essencial do cuidado integral da gestante. Com a abordagem correta e a colaboração entre dentistas e obstetras, é possível garantir a saúde bucal da mãe e contribuir para o bem-estar do bebê.
Gestantes devem ser incentivadas a realizar consultas regulares e adotar práticas preventivas, desmistificando os temores relacionados ao tratamento odontológico. Assim, cuidando da saúde bucal, promovem-se uma gestação mais tranquila e uma maternidade mais saudável.