Na odontologia, a biossegurança não é apenas uma recomendação, mas uma obrigação ética, legal e sanitária. Sendo assim, entre os pilares fundamentais da biossegurança, está o protocolo de paramentação odontológica, que garante a proteção do dentista, da equipe auxiliar e dos pacientes contra contaminações cruzadas.

Entretanto, a correta paramentação vai muito além de vestir um jaleco!

Trata-se de um conjunto de práticas que envolve a utilização, colocação e retirada dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), seguindo uma sequência lógica e segura.

Portanto, neste artigo, você vai entender o passo a passo da paramentação odontológica, suas justificativas e a importância de cada etapa para a prática clínica.

O que é paramentação odontológica?

A paramentação odontológica é o processo de vestir os EPIs de forma correta e segura antes de qualquer procedimento clínico. Este protocolo inclui jaleco, gorro, máscara, óculos de proteção, protetor facial, luvas e, em alguns casos, avental impermeável.

Além de ser uma exigência das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e dos Conselhos Regionais de Odontologia (CRO), a paramentação protege contra:

• Contaminação por sangue e saliva;
• Aerossóis contendo microrganismos patogênicos;
• Doenças infecciosas (Hepatites, HIV, COVID-19, tuberculose, entre outras).

Por que a paramentação odontológica é fundamental?

A odontologia é uma das profissões da saúde com maior risco de contaminação cruzada, principalmente devido à geração de aerossóis e ao contato direto com fluidos biológicos.

Benefícios da correta paramentação:

• Protege o profissional contra agentes biológicos;
• Protege o paciente contra possíveis contaminações advindas da equipe;
• Evita disseminação de infecções no ambiente odontológico;
• Atende às normas sanitárias e evita penalidades legais;
• Transmite segurança e credibilidade ao paciente.

Normativas e Obrigações Legais

A paramentação odontológica é regida por diversos órgãos e normas. Sendo assim, dentre elas estão:

• ANVISA – RDC nº 50/2002 (infraestrutura física);
• RDC nº 15/2012 (processamento de produtos para saúde);
• RDC nº 222/2018 (gestão de resíduos);
• NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde;
• Código de Ética Odontológica;
• Conselhos Regionais de Odontologia (CROs).

Todavia, estar em desacordo com essas normas pode gerar multas, interdição do consultório e até processos éticos.

Passo a Passo completo do protocolo de paramentação odontológica

Alguns passos devem ser tomados durante a paramentação odontológica. Sendo assim, o passo a passo consiste em:

1. Higiene das Mãos

Por quê?
É a primeira e mais essencial barreira contra a contaminação. As mãos são vetores potentes de transmissão de microrganismos.

Como fazer:

• Lavar com água e sabão por pelo menos 40 a 60 segundos se houver sujidade visível.
• Se não houver sujidade, higienizar com álcool 70% (gel ou líquido) por 20 a 30 segundos.

🔹 2. Gorro

Finalidade:

• Impede que cabelos soltem fios ou partículas no ambiente clínico e nos campos operatórios;
• Protege os cabelos de aerossóis contaminados.

Como colocar:

• Prender bem os cabelos, incluindo franja e costeletas;
• Ajustar o elástico para cobrir toda a cabeça.

🔹 3. Máscara Cirúrgica ou Respirador (PFF2/N95)

Finalidade:

• Protege vias respiratórias contra aerossóis, gotículas e partículas contaminadas.

Atenção:

• Procedimentos geradores de aerossóis exigem respiradores PFF2, PFF3 ou N95, que possuem capacidade de filtração superior às máscaras comuns.

Como colocar:

• Segurar pelos elásticos ou tiras, sem tocar na parte central;
• Ajustar sobre o nariz com o clipe metálico;
• A máscara deve cobrir nariz e queixo, sem folgas laterais.

🔹 4. Óculos de Proteção ou Protetor Facial (Face Shield)

Finalidade:

• Protege olhos e mucosas da face contra respingos de saliva, sangue e aerossóis.

Observação:

• Idealmente, utilizar face shield combinado com óculos de proteção, pois o escudo facial sozinho não oferece proteção lateral suficiente aos olhos.

Como colocar:

• Encaixar confortavelmente;
• Ajustar o elástico na parte posterior da cabeça.

🔹 5. Jaleco ou Avental de Manga Longa

Características obrigatórias:

• Tecido de algodão ou TNT gramatura mínima de 50g/m²;
• Manga longa com punho fechado;
• Fechamento frontal (preferencialmente com botões ou zíper).

Por quê?

• Atua como barreira física contra respingos e partículas;
• Evita a contaminação da roupa pessoal.

Como vestir:

• Vestir começando pelos braços, depois fechar na parte frontal;
• Verificar se está cobrindo totalmente a roupa.

🔹 6. Luvas de Procedimento

Finalidade:

• Barreira de proteção contra contato direto com sangue, saliva, secreções e mucosas.

Como colocar:

• Higienizar as mãos antes de calçar;
• Vestir as luvas cuidadosamente, sem rasgar;
• As luvas devem ser usadas apenas durante o atendimento e descartadas imediatamente após.

Protocolo de desparamentação: evitando a autocontaminação

Importante: A desparamentação tem maior risco de contaminação que a paramentação. Sendo assim, deve seguir uma sequência rigorosa.

1. Retirada das luvas

• Descartar no lixo infectante.

2. Higiene das mãos

• Lavar ou higienizar com álcool 70%.

3. Retirada do gorro

• Segurar pela parte traseira, sem tocar na parte externa frontal.

4. Retirada do protetor facial e óculos

• Segurar pelos elásticos laterais.

5. Retirada do jaleco

• Abrir na parte frontal e retirar de dentro para fora, dobrando a parte contaminada para dentro.

6. Retirada da máscara

• Retirar segurando pelos elásticos, sem tocar na parte frontal.

7. Higiene final das mãos

• Essencial após todo o processo de desparamentação.

Justificativas científicas de cada etapa

Entender o motivo da importância de seguir o protocolo de paramentação odontológica é um diferencial, afinal conhecimento é tudo. Dessa maneira, as justificativas científicas são:

Etapa	Justificativa
Higiene das mãos	Remove flora transitória e reduz drasticamente a transmissão de patógenos.
Gorro	Cabelos são reservatórios de bactérias e partículas; evitam queda de fios.
Máscara/Respirador	Filtra partículas menores que 0,3 micrômetros, bloqueando agentes infecciosos presentes em aerossóis e gotículas.
Óculos/Face Shield	Olhos são mucosas suscetíveis à entrada de vírus e bactérias; protege contra respingos diretos.
Jaleco	Cria barreira entre a roupa pessoal e o ambiente contaminado; minimiza transporte de patógenos para fora do consultório.
Luvas	Impedem contato direto com sangue, saliva e superfícies contaminadas; devem ser usadas sempre que houver risco biológico.

Dicas avançadas para consultórios odontológicos

• Tenha sempre um local específico e organizado para a paramentação e outro para desparamentação.
• EPIs descartáveis devem ser eliminados em lixeiras próprias para resíduos infectantes.
• Jalecos devem ser lavados diariamente, preferencialmente dentro do consultório ou com serviços especializados.
• Realizar treinamentos periódicos com toda a equipe sobre biossegurança e protocolos atualizados.

Penalidades para o não cumprimento

• Multas sanitárias: valores que podem ultrapassar R$ 5.000,00 por infração, dependendo do estado.
• Interdição do consultório: ocorrência comum em fiscalizações da vigilância sanitária quando há falhas em biossegurança.
• Processo ético-disciplinar: julgamento no CRO, podendo resultar em advertência, suspensão ou cassação do exercício profissional.
• Riscos jurídicos: processos civis por danos à saúde do paciente e até ações criminais em caso de negligência comprovada.

Portanto, adotar um protocolo rigoroso de paramentação odontológica não é apenas cumprir uma exigência legal, mas um ato de cuidado com a própria vida, dos pacientes e da equipe de saúde. Dessa maneira, mais do que nunca, a biossegurança se tornou um diferencial competitivo para clínicas e consultórios que buscam oferecer serviços de excelência e confiança.

Sendo assim, profissionais que demonstram compromisso com a segurança são valorizados no mercado e aumentam significativamente a fidelização dos pacientes.