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Josiane Codental

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Doenças odontológicas

Bruxismo: tudo que você precisa saber

Bruxismo

O bruxismo é o ato de apertar, ranger ou friccionar os dentes. É também conhecido por “neurose do hábito oclusal”, “neuralgia traumática”, “ranger dos dentes” entre outros. Acredita-se que a maioria das pessoas possa ter períodos de bruxismo durante a vida, mas em alguns casos o tempo é breve e não suficiente para gerar sintomas. 

Essa é uma condição subestimada, na qual os pacientes podem não percebê-la. No entanto, suas consequências podem ser muito prejudiciais para os dentes e a região facial. Dessa forma, é fundamental que o profissional da odontologia conheça suas características a fim de promover o adequado diagnóstico e tratamento.

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Definição de bruxismo

É normal que nossos dentes entrem em contato para realizar funções tais quais mastigação, deglutição ou fala. Bruxismo é o contato estático ou dinâmico sobre os dentes em situações não funcionais. Nesse caso, no entanto, o contato ocorre em outros momentos e pode estar associado a diversos fatores, como o stress.

Causas do bruxismo

O bruxismo possui uma causa multifatorial, o que dificulta sua identificação. Os fatores etiológicos podem ser:

  • Dentais: tipo de oclusão, posição dos dentes, mobilidade, padrão de movimento mandibular, contatos prematuros e restaurações;
  • Psicoemocionais: ansiedade e nervosismo;
  • Sistêmicos: alterações no trato digestivo, como, por exemplo, paralisias intestinais e alterações na produção de enzimas;
  • Ocupacionais: atividade física pessoal e profissional;
  • Idiopáticos: surgimento espontâneo;
  • Hereditários;
  • Nutricionais: consumo de café, chás, chocolate, refrigerante tipo cola.

Sendo que, dentre esses, os dentais e psicoemocionais são os mais frequentes.

Outrossim, indivíduos fumantes apresentam maior risco de desenvolver o bruxismo, enquanto aqueles que já apresentavam podem ter mais episódios de ranger dos dentes. Ainda, substâncias como ecstasy, medicamentos antipsicóticos antagonistas da neurotransmissão dopaminérgica, antidepressivos ISRS e inibidores de canais de cálcio podem também interferir no surgimento.

Bruxismo e ansiedade

Junto aos fatores dentais, os psicossociais são os mais frequentes causadores de bruxismo. Isso ocorre, pois o paciente acumula a tensão da ansiedade e do estresse e usa o ato de apertar os dentes para descarregar seus sentimentos.

Alguns pacientes com sintomas de ansiedade buscam o tabaco para aliviar o estresse. No entanto, o tabagismo estimula o sistema nervoso central, e pode agravar o movimento parafuncional.

Classificação do bruxismo

O bruxismo pode ser classificado quanto a algumas características, o que facilita o protocolo de tratamento.

Bruxismo cêntrico ou excêntrico

Primeiramente, o bruxismo pode ser cêntrico ou excêntrico. No primeiro caso, há o apertamento maxilo-mandibular e é mais frequente no período noturno. Neste, não ocorre deslizamento, sendo o movimento isométrico, ou seja, estático. O excêntrico é caracterizado pelo apertamento e deslizamento dos dentes, promovendo o rangimento.

Bruxismo crônico ou agudo

Outra classificação a ser feita no bruxismo é quanto à cronicidade. O caso crônico se dá quando o organismo se adequa à sua ocorrência. O agudo, por outro lado, ocorre quando o processo é, por diversos fatores, agravado. Nesses casos, supera-se a capacidade biológica de se adaptar à condição e surgem os sintomas.

Bruxismo primário ou secundário

O bruxismo primário é caracterizado pela cronicidade e persistência das contrações, enquanto o secundário está associado a outros transtornos clínicos, como neurológico (doença de Parkinson), psiquiátrico (depressão), uso de drogas (anfetaminas) e outros transtornos de sono (apneia).

Bruxismo durante o dia (diurno) e durante a noite (noturno)

Por fim, há a classificação quanto ao período em que se dá o processo. No caso do diurno, o movimento é semivoluntário e pode ser originado de um tique ou hábito. Nesses casos, o paciente possui certa consciência sobre os movimentos realizados, que incluem apertar e ranger os dentes, além de morder a língua e a bochecha, chupar dedo e morder objetos.

Já o bruxismo noturno ocorre sem que o paciente perceba, o que dificulta que este procure tratamento, já que não conhece que possui a condição. Nesses casos, ocorrem episódios únicos com tempo variável e em contrações rítmicas e emissão de ruídos. Ainda, ele está geralmente associado ao sono não-REM, principalmente nas mudanças de sono profundo para leve, podendo ocorrer despertares curtos.

Sintomas do bruxismo

O bruxismo está quase sempre associado a um estado emocional alterado do paciente, sendo normalmente stress, gerando ansiedade e nervosismo. O paciente pode apresentar efeito em:

Dentição e periodonto

Os efeitos do bruxismo na dentição e no periodonto são a reabsorção óssea, alargamento do espaço periodontal, necrose dos tecidos periodontais, mobilidade, formação de diastemas, recessão gengival, hipercementose, sensibilidade dentária, pulpite, necrose pulpar e perda da dimensão vertical. É importante destacar que esses danos podem atingir um ou mais dentes, a depender do movimento realizado.

Músculos mastigatórios e ATM

O bruxismo pode aumentar o tônus e a atividade muscular dos músculos mastigatórios, principalmente o masseter. Os sintomas musculares incluem dor muscular e presença de pontos sensíveis evidenciados ao toque. Em casos graves, pode haver contração facial, trismo e alterações oclusais.

A alteração na musculatura leva a reflexos na ATM, gerando os sintomas de dor, desconforto, dificuldade para a mastigação, travamento articular, luxação, crepitação, ruído e alterações degenerativas na articulação e desvios na trajetória de abertura da boca.

A dor de cabeça pode se apresentar na forma de uma pressão discreta na região da fronte atrás dos olhos e ao longo da origem do masseter no arco zigomático. Pode aparecer também como enxaqueca como consequência da isquemia produzida pelo estado hipertônico dos músculos, já que a falta de oxigenação estimula as terminações nervosas, que respondem com dor.

Bruxismo infantil

O bruxismo em crianças vem crescendo na atualidade, e uma das causas para tal é a alteração na oclusão dentária. Ademais, podem ser observados casos oriundos de fatores sistêmicos, como deficiência nutricional, especialmente de cálcio e ácido pantotênico. Outrossim, alguns estudos indicam também a relação com o aleitamento materno, dado que quanto maior o tempo de aleitamento, menor a ocorrência dos movimentos parafuncionais. 

Em alguns casos o surgimento pode também estar relacionado a fatores alérgicos, que causam edema na mucosa das tubas auditivas e geram o reflexo de bruxismo.

As características estruturais e funcionais dos dentes decíduos das crianças em idade pré-escolar são favoráveis para o desenvolvimento do bruxismo. Além disso, a erupção dos dentes incisivos sem o surgimento dos antagonistas também podem contribuir para o desenvolvimento da condição. 

Assim, o odontopediatra precisa estar atento aos possíveis sinais de bruxismo para iniciar o tratamento precoce.

Diagnóstico do bruxismo

Nos casos de bruxismo com sintomas associados, o profissional da odontologia deve diagnosticar precocemente para serem prevenidos os danos, que podem ser irreversíveis.

Normalmente o paciente, quando chega no consultório, relata a limitação da abertura da boca, ruídos na ATM, hipersensibilidade térmica e dor muscular. Esses sintomas sugerem o bruxismo, no entanto, para o diagnóstico, uma anamnese completa e o exame clínico devem ser feitos.

Relatos dos hábitos diurnos do paciente

Para uma completa anamnese, o profissional deve se atentar a certos relatos, como os relatos diurnos de:

  • Dor ou desconforto dos músculos da mandíbula;
  • Cefaleia localizada na região temporal;
  • Mandíbula rígida com mobilidade reduzida;
  • Hipersensibilidade dos dentes ao ar, líquidos e alimentos frios ou quentes;
  • Sensação de boca seca;
  • Ferimentos na cavidade bucal;
  • Dores de dente e de garganta;
  • Cervicalgia;
  • Dores musculares difusas;
  • Zumbidos;

Relatos doa hábitos noturnos do paciente

O profissional deve questionar também relatos sobre o sono do paciente, que incluem:

  • Ranger dos dentes com presença de sons (percebido por terceiros);
  • Pesadelos;
  • Sudorese excessiva durante o sono;
  • Palpitações;
  • Despertares breves durante o sono;
  • Despertares súbitos com taquicardia.

Condições percebidas pelo dentista

Ainda, algumas características podem ser percebidas pelo dentista, são elas:

  • Exacerbação de doenças periodontais;
  • Desgaste dentário;
  • Obturações brilhantes;
  • Cortes na língua;
  • Abrasão e perda do esmalte dentário, levando a exposição da dentina;
  • Redução do fluxo salivar;
  • Hipertrofia dos músculos masseter, temporal, pterigoide medial e lateral;
  • Dor à palpação dos músculos;
  • Gengivite.

Para o exame clínico, o dentista deve avaliar as bordas incisais e/ou oclusais dos dentes antagônicos a fim de perceber desgastes. Além disso, deve-se observar também a presença de pulpites, odontalgia, fraturas e restaurações. Ainda, se o paciente apresentar hipermobilidade dentária, mas não houver doença periodontal, a causa desta pode ser o bruxismo.

O exame laboratorial radiográfico também é fundamental para o diagnóstico, pois permite a observação de alterações no espaço periodontal, desaparecimento da lâmina dura, reabsorção radicular, fraturas radiculares ou cálculos pulpares. 

Tratamentos

Diante das causas multifatoriais, o tratamento do bruxismo varia conforme o fator que o causou. Em alguns casos, pode haver a necessidade de um cirurgião dentista, psicólogo, fisioterapeuta e fonoaudiólogo para que todos os aspectos do paciente sejam devidamente tratados. Dessa forma, o profissional da odontologia, ao realizar a anamnese, deve identificar as possíveis causas da condição e sugerir a multidisciplinaridade do tratamento. 

Este deve visar a redução da tensão física e psicológica, tratamento dos sintomas, minimização de alterações oclusais e rompimento do padrão neuromuscular habitual.

Podem ser indicados ainda medicamentos específicos para a dor muscular, mas que possuem a desvantagem de ter uma eficácia temporária, dado que tratam o sintoma, e não a condição em si. Além disso, diante do efeito temporário e do risco de dependência, os medicamentos não são amplamente utilizados. Ademais, outra alternativa é a aplicação de toxina botulínica, que inibe a liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares, diminuindo as contrações musculares. Contudo, esta opção tem como desvantagem seu alto custo e a dependência de que a aplicação seja feita por um profissional capacitado para tal.

O cirurgião dentista, ao diagnosticar o bruxismo, pode indicar o uso de placas interoclusais. Estas são confeccionadas com superfície oclusal plana que recobre todos os dentes, distribuindo a força aplicada durante o movimento. Assim, o uso da placa se torna fundamental para diminuir os desgastes e a mobilidade dental, evitando complicações. 

Para esse tratamento, dois tipos de placas podem ser utilizados; no caso de uso a curto prazo, pode-se optar pelo protetor bucal flexível. Contudo, para os usos ao longo prazo, recomenda-se o uso das placas rígidas. Vale destacar, no entanto, não há indícios de que seu uso elimine o bruxismo, dado que pode ocorrer recidiva após a suspensão do uso. Além disso, pode ainda realizar a terapia oclusal para minimizar os danos do apertamento dos dentes.

Por fim, o profissional da odontologia deve fazer um biofeedback, conscientizando o paciente para que ele mesmo identifique a hiperatividade muscular e consiga controlá-la. Por fim, nos casos de bruxismo noturno, a prática de higiene do sono também pode cooperar para o tratamento.

Conduta do dentista

O profissional da odontologia precisa conhecer a fisiopatologia da doença, assim como as melhores formas de diagnóstico e tratamento. Além disso, precisa estar capacitado para entender as possíveis causas e assim gerar o encaminhamento necessário. É importante que o tratamento abranja não só as consequências, mas as causas do bruxismo.

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