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Doenças odontológicas

Biofilme na odontologia: saiba como controlar esse problema!

biofilme

Publicado por

Juliana Costa

Na prática odontológica, compreender profundamente o biofilme não é apenas um detalhe acadêmico — trata-se de um fator determinante para a prevenção, diagnóstico e tratamento de diversas doenças bucais. No entanto, embora o termo “biofilme” seja amplamente utilizado, muitos profissionais subestimam a complexidade desse fenômeno e, principalmente, seu impacto direto na saúde bucal dos pacientes.

Diante disso, este artigo pretende oferecer um panorama completo sobre essa condição na odontologia. Vamos abordar desde sua definição e formação até suas implicações clínicas e estratégias de controle.

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O que é biofilme?

De forma objetiva, o biofilme é uma comunidade microbiana organizada, embebida em uma matriz extracelular autossintetizada, aderida a superfícies biológicas ou inertes. Na cavidade bucal, ele se desenvolve principalmente sobre os dentes, gengiva, mucosas, próteses e implantes.

Porém, não é simplesmente um acúmulo de bactérias. Trata-se de uma estrutura complexa, onde diferentes espécies microbianas interagem de forma sinérgica, criando um ambiente altamente resistente tanto à resposta imunológica do hospedeiro quanto aos agentes antimicrobianos.

Como se forma?

O desenvolvimento do biofilme segue uma sequência altamente organizada, que pode ser dividida em cinco etapas principais. Dessa maneira, a sequência se organiza da seguinte forma:

1. Formação da Película Adquirida

Logo após a higienização, uma fina camada proteica, chamada de película adquirida, se deposita nas superfícies dentárias. Sendo assim, esta película, formada por glicoproteínas salivares, atua como substrato inicial para a adesão bacteriana.

No entanto, sem essa película, o biofilme não conseguiria se formar, pois ela funciona como ponte de adesão entre as bactérias e o dente.

2. Adesão Inicial dos Microrganismos

Na sequência, bactérias pioneiras — predominantemente cocos Gram-positivos como Streptococcus sanguinis e Streptococcus mitis — aderem à película. A adesão ocorre por meio de interações físico-químicas, incluindo forças de Van der Waals e ligações hidrofóbicas.

3. Colonização Secundária e Coagregação

À medida que o ambiente se estabiliza, outras espécies microbianas se aderem às bactérias já fixadas, num processo chamado de coagregação bacteriana. Portanto, aqui começam a aparecer microrganismos mais patogênicos, como Fusobacterium nucleatum e Porphyromonas gingivalis.

4. Maturação do Biofilme

Neste estágio, o biofilme se torna tridimensional, com canais que facilitam a troca de nutrientes e a remoção de resíduos metabólicos. A matriz extracelular, rica em polissacarídeos, proteínas e DNA extracelular, confere resistência mecânica e biológica ao biofilme.

5. Dispensão

Por fim, parte das bactérias pode se desprender e colonizar novas áreas, perpetuando o ciclo de formação do biofilme em outros locais da cavidade bucal.

Principais tipos de biofilme na odontologia

Conforme a localização e composição, ele pode ser classificado em:

  • Supragengival: localizado acima da margem gengival. Está associado principalmente à cárie dental.
  • Subgengival: abaixo da margem gengival, dentro do sulco ou bolsa periodontal. Dessa maneira, está fortemente relacionado às doenças periodontais, como gengivite e periodontite.
  • Peri-implantar: associado à superfície de implantes, podendo levar à mucosite e a peri-implantite.

Por que o biofilme é um desafio clínico?

O biofilme representa um dos maiores desafios na odontologia moderna. Isso porque, ao se organizar em comunidades estruturadas, as bactérias dentro do biofilme podem ser até 1000 vezes mais resistentes aos antimicrobianos do que as bactérias planctônicas (livres).

Além disso, a matriz extracelular atua como uma barreira física, dificultando a penetração de agentes terapêuticos. Consequentemente, isso explica por que lesões de cárie, gengivite e periodontite podem evoluir mesmo em pacientes que utilizam enxaguantes ou antibióticos de forma indiscriminada.

Biofilme e doenças bucais

Algumas condições se desenvolvem na presença do biofilme, sendo elas:

Cárie Dental

O biofilme supragengival, quando exposto a dietas ricas em carboidratos fermentáveis, leva à produção de ácidos. Dessa forma, esse ambiente ácido promove a desmineralização do esmalte e da dentina, resultando na formação da cárie.

Gengivite e Periodontite

No biofilme subgengival, a predominância de microrganismos anaeróbios e Gram-negativos, como Porphyromonas gingivalis, desencadeia uma resposta inflamatória intensa. Se não controlado, esse processo leva à destruição dos tecidos de suporte dental, culminando na periodontite.

Peri-implantite

Os biofilmes que se formam na superfície dos implantes possuem características semelhantes aos da periodontite, mas com evolução mais agressiva devido à ausência de ligamento periodontal, facilitando a perda óssea.

Estratégias de controle e manejo do biofilme

Apesar de sua resistência, o biofilme pode ser controlado com a combinação de métodos mecânicos, químicos e educacionais.

Controle Mecânico

É o método mais eficaz e indispensável.

  • Escovação dental: deve ser realizada ao menos duas vezes ao dia, com técnica adequada.
  • Fio dental ou escovas interdentais: indispensáveis para a remoção do biofilme interdental e subgengival raso.
  • Profilaxia profissional: realizada periodicamente no consultório, utilizando ultrassom, jato de bicarbonato e instrumentos manuais.

Controle Químico

Funciona como complemento ao controle mecânico, especialmente em áreas de difícil acesso.

  • Antissépticos bucais:
    • Clorexidina 0,12%: eficiente, porém, seu uso deve ser limitado devido aos efeitos colaterais (pigmentação, alteração do paladar).
    • Óleos essenciais: como Listerine, apresentam ação antimicrobiana mais branda, mas são úteis no uso diário.
    • Enzimas e agentes anti-biofilme: novas formulações que visam quebrar a matriz do biofilme estão em desenvolvimento.

Controle Educacional

  • Motivação e orientação de higiene bucal: o paciente precisa entender o que é biofilme, como ele impacta sua saúde e por que a remoção diária é essencial.
  • Ferramentas visuais: uso de reveladores de biofilme pode ser extremamente didático tanto para crianças quanto para adultos.

Tecnologias emergentes de controle

Nos últimos anos, a odontologia tem investido em tecnologias inovadoras para combater o biofilme, tais como:

  • Laserterapia: utiliza comprimentos de onda específicos para reduzir cargas microbianas.
  • Fotodinâmica antimicrobiana (PDT): combina luz e corantes fotossensíveis para destruir biofilmes periodontais e peri-implantares.
  • Ultrassom de alta frequência: mais eficiente na desorganização do biofilme subgengival.
  • Nanotecnologia: desenvolvimento de materiais dentários com propriedades antiaderentes e antimicrobianas.

Biofilme além da cavidade bucal

É importante destacar que esse problema não impacta apenas a saúde oral. Diversos estudos mostram correlação direta entre biofilme periodontal e doenças sistêmicas, como:

  • Doenças cardiovasculares;
  • Diabetes mellitus;
  • Parto prematuro e baixo peso ao nascer;
  • Doenças respiratórias;
  • Doença renal crônica.

Portanto, ao controlar o biofilme, o dentista não está apenas tratando a saúde bucal, mas contribuindo para a saúde geral do paciente.

Em resumo, o biofilme é um fenômeno microbiológico complexo, altamente organizado e resistente, que desempenha um papel central na etiologia das principais doenças bucais.

Seu manejo exige um compromisso contínuo tanto do profissional quanto do paciente.

Na prática clínica, a integração de estratégias de controle mecânico, químico e educacional se mostra a abordagem mais eficaz.

Além disso, o domínio sobre esse tema não só qualifica o atendimento odontológico, como também fortalece a relação de confiança entre dentista e paciente, mostrando que a odontologia vai muito além do tratamento — ela é, sobretudo, prevenção e promoção da saúde.

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