A implantodontia evoluiu significativamente nas últimas décadas, proporcionando aos pacientes soluções cada vez mais eficazes e duradouras para a reabilitação oral. No entanto, com o crescimento do número de implantes instalados, também aumentou a incidência de complicações relacionadas aos tecidos peri-implante.
Entretanto, um dos principais desafios clínicos enfrentados atualmente é a doença peri-implantar, que abrange desde a mucosite peri-implantar até a peri-implantite.

Neste artigo, vamos abordar tudo sobre o peri-implante: o que é, quais são os sinais clínicos, as principais causas, formas de prevenção e as estratégias mais eficazes de tratamento. Se você é dentista e atua com implantes ou deseja se aprofundar nesse campo, continue lendo e tenha acesso a um conteúdo completo e atualizado.
O que é peri-implante?
O termo “peri-implante” refere-se aos tecidos moles e duros que circundam um implante dentário. Dessa maneira, a saúde peri-implantar é essencial para o sucesso funcional e estético do implante a longo prazo. Sendo assim, esses tecidos incluem:
- Mucosa peri-implantar (tecido mole que envolve o implante);
- Osso alveolar peri-implantar (estrutura óssea que sustenta o implante).
Quando ocorre inflamação nesses tecidos, classifica-se como doença peri-implantar, dividida em dois estágios principais:
- Mucosite peri-implantar – inflamação reversível que afeta apenas os tecidos moles;
- Peri-implantite – inflamação com perda de osso de suporte, considerada irreversível sem intervenção cirúrgica ou regenerativa.
Diferença entre mucosite peri-implantar e peri-implantite
Mucosite peri-implantar
- Etiologia: acúmulo de biofilme bacteriano;
- Manifestações clínicas: sangramento à sondagem, eritema, edema;
- Reversibilidade: sim, com remoção do biofilme e controle da higiene.
Peri-implantite
- Etiologia: progressão da mucosite sem controle, aliada a fatores sistêmicos ou locais;
- Manifestações clínicas: sangramento à sondagem, supuração, perda óssea, mobilidade do implante em casos avançados;
- Reversibilidade: limitada; requer intervenção mais complexa.
Fatores de risco para doenças no peri-implante
O conhecimento dos fatores predisponentes é crucial para a prevenção e manejo da peri-implantite. Dessa forma, entre os principais fatores de risco, destacam-se:
Fatores locais:
- Higiene oral deficiente;
- Presença de excesso de cimento em próteses cimentadas;
- Design protético que dificulta a higiene;
- Sobrecarga oclusal;
- Implantes mal posicionados.
Sistêmicos:
- Doença periodontal prévia;
- Diabetes mellitus mal controlado;
- Tabagismo;
- Imunossupressão;
- Genética (resposta inflamatória exacerbada).
Fatores iatrogênicos:
- Técnica cirúrgica inadequada;
- Falta de manutenção periódica;
- Ausência de gengiva queratinizada ao redor do implante.
Diagnóstico das doenças peri-implantares
Um diagnóstico preciso depende de uma avaliação clínica e radiográfica minuciosa. Além disso, a anamnese, associada ao exame clínico e ao monitoramento periódico, é essencial para identificar precocemente alterações nos tecidos peri-implantares.
Critérios clínicos:
- Sondagem peri-implantar: profundidade > 4 mm com sangramento;
- Presença de supuração;
- Mobilidade (em casos avançados);
- Avaliação da presença de gengiva queratinizada.
Critérios radiográficos:
- Comparação com imagens anteriores;
- Verificação da perda óssea marginal.
Como prevenir a peri-implantite?
A prevenção é a melhor estratégia para evitar complicações nos tecidos peri-implantares. Dessa maneira, os pilares fundamentais para a manutenção da saúde peri-implantar são:
1. Planejamento cirúrgico e protético adequado
- Avaliação minuciosa do paciente;
- Posicionamento ideal do implante;
- Escolha de próteses com design favorável à higienização.
2. Controle de fatores sistêmicos
- Estabilização de doenças como diabetes;
- Cessação do tabagismo com apoio profissional.
3. Higiene oral efetiva
- Orientação personalizada ao paciente;
- Utilização de escovas interdentais, fios super floss e irrigadores orais.
4. Programa de manutenção peri-implantar
- Consultas periódicas a cada 3 a 6 meses;
- Remoção de biofilme com instrumentos específicos (plásticos ou titânio);
- Radiografias comparativas periódicas.
Tratamento da mucosite peri-implantar
Por se tratar de uma inflamação reversível, o tratamento da mucosite visa a eliminação do biofilme e a reeducação do paciente quanto à higiene oral.
Etapas do tratamento:
- Profilaxia profissional com ultrassom e jatos de bicarbonato/glicina;
- Instrumentação mecânica com curetas apropriadas;
- Uso adjunto de antissépticos (ex: clorexidina 0,12%);
- Reforço da higiene oral domiciliar.
No entanto, em muitos casos, a mucosite pode ser resolvida em poucas semanas com medidas simples e acompanhamento rigoroso.
Tratamento da peri-implantite
O tratamento da peri-implantite é mais complexo e pode envolver abordagens não cirúrgicas, cirúrgicas e regenerativas, dependendo do grau de comprometimento ósseo.
Tratamento não cirúrgico:
- Descontaminação da superfície do implante com jato de glicina ou terapia fotodinâmica;
- Uso de lasers como coadjuvante;
- Antibióticos sistêmicos em casos selecionados.
Limitação: eficácia reduzida em perdas ósseas avançadas.
Tratamento cirúrgico:
Indicado quando há falha no controle não cirúrgico ou em casos moderados a severos.
Técnicas cirúrgicas:
- Cirurgia ressectiva: remoção de tecidos contaminados e regularização óssea;
- Cirurgia regenerativa: uso de biomateriais e membranas para recuperação do osso perdido.
Portanto, a escolha entre uma abordagem regenerativa ou ressectiva depende do defeito ósseo e da possibilidade de descontaminação efetiva da superfície do implante.
Prognóstico e manutenção a longo prazo
O prognóstico de implantes afetados por peri-implantite depende de vários fatores:
- Tempo de instalação do implante;
- Extensão da perda óssea;
- Resposta ao tratamento;
- Participação do paciente no programa de manutenção.
Implantes com mobilidade geralmente têm indicação de remoção, enquanto casos tratados precocemente podem manter-se estáveis por muitos anos, desde que sob vigilância periódica e controle rigoroso de higiene.
Novas tecnologias e perspectivas futuras
A área de tratamento peri-implantar está em constante evolução. Sendo assim, algumas inovações em destaque incluem:
- Plasma rico em fibrina (PRF): para promover regeneração tecidual;
- Nanotecnologia em superfícies de implantes para reduzir adesão bacteriana;
- Terapias com peptídeos antimicrobianos;
- Inteligência artificial para monitoramento peri-implantar (como scanners intraorais e radiografias com IA para avaliação da perda óssea precoce).
Concluindo, a saúde peri-implantar é um dos pilares da longevidade dos implantes dentários. Para o dentista, reconhecer precocemente os sinais clínicos da mucosite e da peri-implantite, adotar estratégias preventivas e estar atualizado quanto aos protocolos de tratamento são atitudes fundamentais para garantir resultados funcionais e estéticos duradouros.
O sucesso da implantodontia não depende apenas da instalação correta do implante, mas principalmente do seguimento clínico, da educação do paciente e de um programa de manutenção personalizado.